Excelente começo de discussão, Juliana. Penso, por ser psi escolar/educacional crítica e atuar há mais de 10 anos com anos iniciais que temos algumas variáveis desse problema. A professora precarizada que não dá conta sozinha de uma sala de aula com 27 crianças que se alfabetizaram na pandemia e que agora estão no 2º ano do fund I com suas pluralidades e demandas acadêmicas E sociais (que faz parte de todo processo de aprendizado). Essa trabalhadora precisa “dar conta” do que falta, do que excede, do que nem se sabe que falta/excede. Essa professora inserida na cultura aprende que algo se justifica fora da sua sala de aula (porque a indústria da medicalização da vida faz muito bem sua publicidade e propaganda). A outra ponta do laço social, família, todo mundo aqui já consegue imaginar. Um laço esgarçado. O outro nó, o mais crítico, que regula todo o resto: sistema educacional colono-capitalista exige, esquadrinha, controla e continua homogeinizante e feito para o “sujeito ideal”: branco, sem deficiência, homem, atento, obediente, domesticado… Se não tivéssemos a variável ESCOLA PRODUTIVA PARA O CAPITAL reduziria drasticamente o boom de diagnósticos e transtornos do desenvolvimento e da aprendizagem. Ano passado me dei conta que nesses 10 anos nunca tinha recebido tantos relatórios de altas habilidades/superdotação. Fenômeno preocupante e sintomático. Com o coletivo fraturado pelas metas, pelas provas, pelos conteúdos, esse professor(a) precisa literalmente escolher para onde vai sua atenção e cuidado. Seu texto é importantíssimo pra gente continuar pensando, criando saídas, desmontando a hegemonia.
Texto irretocável. Não conhecia essa história, embora tivesse lido sobre o teste de Stanford Binet na faculdade. Estava abismada com essa leitura recente das altas habilidades como um “diagnóstico”, com dificuldades associadas e seu texto foi bastante esclarecedor!
O ser humano é um ser social e definir a habilidade de alguém a partir de uma perspectiva individual é contar a história pela metade. Muito bom o artigo.
Excelente, Juliana! O pior de tudo é que essa elevação de "altas habilidades" a um diagnóstico é fruto de canetaço governamental - não só delirio ou trambique das redes sociais. Em 2015, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) definiu como público-alvo da educação especial (!) estudantes com deficiência intelectual, transtornos globais do desenvolvimento e.. Altas Habilidades/Superdotação. Lambança com assinatura dos "especialistas". Daí sobra para o médico a responsabilidade de atestar esse pseudodiagnóstico para que a escola possa fazer seu trabalho. Não tem o menor sentido.
Verdade Renata, eu vi essa diretriz e fiquei com essa impressão da força da lobby político de certos grupos de interesse. A ciência em torno dessa questão é uma caixa de ressonância em que um punhado de especialistas amplifica uma mensagem contraditória. Estudos muito pequenos e cheios de vieses, além de artigos de opinião baseados em especulação. E os próprios especialistas dizem que é um grupo extremamente heterogêneo de pessoas, que tem pouco em comum exceto pelo rótulo de altas habilidades. E o que indicam como sofrimento é o sofrimento compartilhado por muitas crianças com ou sem esse diagnóstico. Não faz sentido construir um olhar especial para esse grupo, como se as necessidades deles fossem diferentes de outras crianças. Claro que nos casos das deficiências intelectuais, as medidas específicas são necessárias. Mas, no caso do bom desempenho intelectual, a questão é outra. É como tornar o ambiente escolar interessante e rico em vivências e desafios. E eu não vejo porque não promover isso para todas as crianças e não para um punhado selecionado.
Olá Raisa! O teste de QI ainda é usado, mas certamente não é instrumento de diagnóstico isolado. O que perdeu força foi o conceito de inteligência como “aquilo que o teste de QI mede”. O teste não mede inteligência. Ele mede capacidade instrumental para o ambiente escolar e acadêmico tradicional. Já inteligência é muito mais complicado e subjetivo…
Excelente começo de discussão, Juliana. Penso, por ser psi escolar/educacional crítica e atuar há mais de 10 anos com anos iniciais que temos algumas variáveis desse problema. A professora precarizada que não dá conta sozinha de uma sala de aula com 27 crianças que se alfabetizaram na pandemia e que agora estão no 2º ano do fund I com suas pluralidades e demandas acadêmicas E sociais (que faz parte de todo processo de aprendizado). Essa trabalhadora precisa “dar conta” do que falta, do que excede, do que nem se sabe que falta/excede. Essa professora inserida na cultura aprende que algo se justifica fora da sua sala de aula (porque a indústria da medicalização da vida faz muito bem sua publicidade e propaganda). A outra ponta do laço social, família, todo mundo aqui já consegue imaginar. Um laço esgarçado. O outro nó, o mais crítico, que regula todo o resto: sistema educacional colono-capitalista exige, esquadrinha, controla e continua homogeinizante e feito para o “sujeito ideal”: branco, sem deficiência, homem, atento, obediente, domesticado… Se não tivéssemos a variável ESCOLA PRODUTIVA PARA O CAPITAL reduziria drasticamente o boom de diagnósticos e transtornos do desenvolvimento e da aprendizagem. Ano passado me dei conta que nesses 10 anos nunca tinha recebido tantos relatórios de altas habilidades/superdotação. Fenômeno preocupante e sintomático. Com o coletivo fraturado pelas metas, pelas provas, pelos conteúdos, esse professor(a) precisa literalmente escolher para onde vai sua atenção e cuidado. Seu texto é importantíssimo pra gente continuar pensando, criando saídas, desmontando a hegemonia.
Artigo necessário, pontuando e colocando os pingos nos issss. Se for para melhorar a educação que melhore para todos sem supervalorização. 🧠✅
Texto irretocável. Não conhecia essa história, embora tivesse lido sobre o teste de Stanford Binet na faculdade. Estava abismada com essa leitura recente das altas habilidades como um “diagnóstico”, com dificuldades associadas e seu texto foi bastante esclarecedor!
O ser humano é um ser social e definir a habilidade de alguém a partir de uma perspectiva individual é contar a história pela metade. Muito bom o artigo.
Muito bom, trabalho completo.
Excelente, Juliana! O pior de tudo é que essa elevação de "altas habilidades" a um diagnóstico é fruto de canetaço governamental - não só delirio ou trambique das redes sociais. Em 2015, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) definiu como público-alvo da educação especial (!) estudantes com deficiência intelectual, transtornos globais do desenvolvimento e.. Altas Habilidades/Superdotação. Lambança com assinatura dos "especialistas". Daí sobra para o médico a responsabilidade de atestar esse pseudodiagnóstico para que a escola possa fazer seu trabalho. Não tem o menor sentido.
Verdade Renata, eu vi essa diretriz e fiquei com essa impressão da força da lobby político de certos grupos de interesse. A ciência em torno dessa questão é uma caixa de ressonância em que um punhado de especialistas amplifica uma mensagem contraditória. Estudos muito pequenos e cheios de vieses, além de artigos de opinião baseados em especulação. E os próprios especialistas dizem que é um grupo extremamente heterogêneo de pessoas, que tem pouco em comum exceto pelo rótulo de altas habilidades. E o que indicam como sofrimento é o sofrimento compartilhado por muitas crianças com ou sem esse diagnóstico. Não faz sentido construir um olhar especial para esse grupo, como se as necessidades deles fossem diferentes de outras crianças. Claro que nos casos das deficiências intelectuais, as medidas específicas são necessárias. Mas, no caso do bom desempenho intelectual, a questão é outra. É como tornar o ambiente escolar interessante e rico em vivências e desafios. E eu não vejo porque não promover isso para todas as crianças e não para um punhado selecionado.
Sou pedagoga, professora de ensino fundamental, e estudante de psicologia. Amei sua forma de enxergar o tema.
Que Interessante, Juliana.
Mas tenho uma dúvida bem rudimentar, teste de QI ainda faz algum sentido? Eu jurava que isso era uma métrica ultrapassada de avaliação...
Parabéns pelo excelente trabalho!
Olá Raisa! O teste de QI ainda é usado, mas certamente não é instrumento de diagnóstico isolado. O que perdeu força foi o conceito de inteligência como “aquilo que o teste de QI mede”. O teste não mede inteligência. Ele mede capacidade instrumental para o ambiente escolar e acadêmico tradicional. Já inteligência é muito mais complicado e subjetivo…